Conheça Rev. Cj Dunford

Texto original publicado em: https://www.shin-ibs.edu/meet-rev-cj-dunford/ e traduzido pelo praticante leigo Mateus Aoki, membro da Rainbow Sangha e pertencente à tradição Jodo Shinshu Hongwanji-ha.

Entrevista realizada por Gesshin Claire Greenwood, 12 de novembro de 2020

Gesshin: De onde você é? Conte-nos sobre você

CJ: Eu sou CJ e venho de uma pequena cidade no noroeste da Virgínia chamada Pembroke. Talvez você conheça Blacksburg onde a Virginia Tech está localizada. Cresci lá e meus pais são ministros cristãos pentecostais muito conservadores. Aos dezenove anos, eu me assumi gay e isso foi… muito bom [risos], então decidi que era um bom momento para viver por conta própria. Deixei a casa da minha família e estudei geologia. Terminei meu bacharelado em geologia cum laude em 2007 e iniciei no programa de pós-graduação em Ciências da Terra na Universidade Estadual de São Francisco. Não sei o que pensei que estava fazendo! Mas eu gostava de geologia e ciência. Então, estava seguindo meu coração excêntrico de vinte anos. Principalmente, só queria estar em São Francisco, e morei na área da baía desde então.

Gesshin: Como você encontrou o budismo?

CJ: Depois que me mudei para a Baía de São Francisco, trabalhei como maquiador para a Sephora por um tempo.

Gesshin: Sem chance!

CJ: Sim, foi divertido por um tempo. Até que comecei a entrar na gestão e vi o lado desagradável do varejo corporativo nos EUA. Eu me sentia muito insatisfeito com o que estava fazendo da vida, com a forma como as pessoas eram tratadas. Era tudo uma questão de dinheiro, e descobri que me importava muito mais com as pessoas, seus crescimentos e meu próprio. Eu apenas não queria contribuir com esse lado da sociedade. Passei por um momento complicado e estava assistindo muitos vídeos de Ajahn Brahm no YouTube. Depois fui até a livraria do IBS e comecei a procurar livros. Gayle estava trabalhando lá e perguntei a ela sobre templos budistas, pois eu estava apenas assistindo vídeos no YouTube e lendo, então achei que seria legal visitar um templo budista.

Então ela me recomendou a Buddhist Curch of San Francisco (BCSF) e o Berkeley Buddhist Temple (BBT) …fui ao BBT apenas para ter uma experiência e conheci Judy Kono. Ela me apresentou para cada pessoa de lá, e me fez conversar e tomar chá com todos. Eu me considero um pouco esquisito, mas senti que todos foram legais e quiseram ser meus amigos. Então, depois de frequentar por um tempo, comecei a ser voluntário e participar mais das atividades do templo. Ainda estava trabalhando pata a Sephora na época, mas comecei a sentir que alho estava mudando, que minha vida estava tendo propósito. Percebi que só queria estar no templo o tempo todo, queria que isso fosse meu trabalho. Foi quando decidi que queria ser monge

Gesshin: Então, como você sentiu que se encaixava, como se estivesse confortável. Então você fazer disso sua vida.

CJ: Sim! E embora sejamos pessoas diferentes com ideologias ainda mais diferentes, ainda estou em contato com minha família. Acho que o fato de eles serem ministros teve influência em minha decisão também. Pode-se dizer que isso acabou por influenciar minha vocação…

Gesshin: Isso faz sentido. Você pode ver prontamente sendo monge como um início de caminho viável. Então, sobre o que foi sua tese?

CJ: É uma análise histórica e sociológica da vida do Mestre Shinran Shonin e come ele via a discriminação social e classista. Apliquei isso para compreender como as pessoas queer são tratadas na sociedade contemporânea, e montar minha própria opinião sobre a teologia Jodo Shinshu de libertação para pessoas queer. Em muitas discussões convencionais sobre a doutrina do Jodo Shinshu, geralmente nos vemos corrompidos, maus e tolos, inerentemente capazes de obter a salvação por nós mesmos. E temos que confiar no Buda Amida para nos salvar do Samsara.

Shinran e seu mestre, Honen, passaram muito tempo fora dos complexos de templos conversando com pessoas comuns como prostitutas, samurais e fazendeiros. Pessoas que eram realmente importantes para a sociedade, mas eram desprezadas pelos aristocratas, abastados ou instruídos. Penso que o tempo passado pelo Mestre Shinran com pessoas comuns influenciou sua teologia … ele não fala de homossexuais ou queers [explicitamente], porque essas noções realmente não são parte da conversa no momento. Mesmo nos dias de hoje, alguns desses conceitos são estranhos no Japão. Mesmo que as pessoas ainda sintam essas atrações, esses sentimentos e diferentes expressões de gênero, é apenas falado de uma maneira diferente.

Gesshin: Estou imaginando que você vê um paralelo entre prostitutas, samurais e pessoas queer. Estou certo?

CJ: Sim, porque, de um modo geral, a avaliação da sociedade sobre pessoas queer é que somos estranhos, berrantes, corrompidos, malvados e vis. Todos os valores morais cristãos são projetados em nós nesta sociedade. Então tentei fazer esse paralelo.

Gesshin: Isso soa como se você estivesse formulando um argumento de que há um espaço para queers na escola budista Jodo Shinshu, embora isso não esteja explicitamente escrito.

CJ: Definitivamente, e quero pesquisar mais a respeito. Definitivamente, acabei gostando da escola e espero lecionar no IBS um dia. Gostaria de ensinar os aspectos práticos da vida monástica, então gostaria de me inscrever no Doctorate of MInistry, um programa da Pacific School of Religion (PSR). Sinto que é para onde meu coração está me levando. E, como parte dessa pesquisa, gostaria de expandir minha tese e ir em uma direção mais voltada ao cuidado monástico, com a compreensão da teologia e realmente a aplicando a pessoas queer.

Nota do tradutor:

Rev. CJ é uma pessoa não binária. Os pronomes they e them (os quais ele se identifica) acabaram se perdendo na tradução, mas procurou-se não atribuir gênero às suas falas. CJ, atualmente, está se preparando para se tornar um kyoshi (Mestre de Dharma) para poder lecionar plenamente.

Gostaria, também, de expressar gratidão ao rev. Márcio Kuwada (Shaku Daishin), monge missionário da Associação Budista de Dracena (SP), por sua grande ajuda na tradução de alguns termos para o português, segundo as recorrentes traduções do Nishi Hongwanji. Vale ressaltar que os sacerdotes da escola Jodo Shinshu Hongwanji Ha (Nishi), apesar de receberem o título de “monge” em português, não seguem os preceitos monásticos de escolas. Logo, o termo “monge” foi adotado por convenção social na língua portuguesa. Entretanto, em escolas como a Shinshu Otani Ha (Higashi), usa-se o termo “ministro do Dharma”, uma tradução mais próxima do termo japonês Sôryo (僧侶).

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