O perfil de seguidores da Rainbow Sangha – 2021

Em fevereiro deste ano (2021) divulgamos um formulário de pesquisa online para entender melhor o perfil dos LGBTQ que seguem e se engajam com os eventos, atividades e conteúdos da Rainbow Sangha. Foi uma das iniciativas em comemoração aos dois (02) anos de existência de nosso grupo. A pesquisa ficou no ar durante dois meses, de fevereiro à março. E gostaríamos hoje de compartilhar os resultados desta investigação com todos vocês. Mas antes de começarmos a mostrar a análise, queremos agradecer a todos que responderam e ficamos muito felizes em ter vocês conosco.

Entre todos que responderam a pesquisa, 76% eram budistas e outros 24% pertenciam a outras religiões, como católicos, espíritas, religiões de matriz africanas, hindus, mórmons, paganismo e algumas pessoas que não se identificavam ou pertenciam a nenhuma religião. Entre os 76% que disseram que eram budistas, 13,5% tinham dupla-pertença religiosa, ou seja, além de serem budistas, se identificavam também com alguma outra religião, sendo o catolicismo e religiões de matriz africana a mais comum entre estes.

Sobre as tradições às quais estes budistas pertenciam, tivemos uma maioria Zen budistas com 58,9% dos que responderam. Em segundo e terceiro lugar, empatados, temos budistas da Terra Pura e budistas Tibetano (Vajrayana), sendo cada um um total de 15% dos budistas respondentes. Budistas de tradição Nichiren formaram 8,2% do total de pessoas que participaram da pesquisa e por fim, 2,9% Theravada ou que não pertenciam a nenhuma tradição.

Entre os 58,9% que disseram ser de tradição Zen budista, estes frequentam os seguintes sanghas: Zendo Brasil, Eininji e Daissen. Em relação aos 15% dos que disseram fazer parte da tradição Terra Pura, se dividem entre as ordem Otani-ha e Hongwanji-ha. Já os 15% praticantes budistas Tibetanos, se dividiria em: Kagyu, Nyingma e CEBB. E enfim, os 8,2% que pertenciam às tradições Nichiren, seriam: Nichiren-shu, HBS e o grupo de leigos Soka Gakkai.

Em relação à identidade de gênero e orientação sexual, alguns resultados nos surpreenderam, vejamos em detalhe alguns dados no gráfico abaixo:

Em relação a identidade de gênero, a grande maioria com 67% se identifica com o sexo masculino e outros 24,6% com o sexo feminino. Apenas 8,4% não se identificavam nem com o sexo masculino e nem com o sexo feminino. E conhecemos dois (02) homens-trans e um (01) intersexo budistas respondentes. Todos os demais se identificam como cisgênero.

A respeito da sexualidade, entre os budistas que responderam a pesquisa, temos 52% deles sendo homossexuais e 22% que se declararam bissexuais. Entre os heterossexuais que simpatizam com as questões LGBTQ tivemos um total de 19% dos budistas, e os outros 7% dos respondentes se declararam pansexuais ou assexuais.

Entre todos os homossexuais budistas, 90% deles se identificavam como homens-cis gays e apenas 10,5% como mulheres-cis lésbicas, os outros 0,5% se disseram não binários, gênero fluído ou queer/cuir/kuir. Entre os budistas bissexuais, 62,5% se identificavam como homens-cis, sendo um deles um homem-trans e 37,5% se identificaram como mulheres-cis.

Além disso, não poderíamos deixar de entender algumas intersecções como idade/geração e raça/cor. Estas identificações são importantes pois devemos sempre entender o mundo em na ótica da interseccionalidade, para entender a sociedade em toda sua diversidade. Infelizmente, neste momento preferimos não abordar a dimensão da classe, mas vamos entender alguns detalhes importantes que a pesquisa nos mostrou:

Outro dado que nos surpreendeu e nos deixou intrigado, diz respeito às questões de raça/cor. Entre os budistas que responderam a pesquisa, 78% se identificam como brancos, seguidos de 13,6% se identificando como pardos e apenas 4,1% como budistas amarelos/asiáticos. Os outros 4,3% dos budistas que participaram se dividem em apenas dois (02) negros e apenas um (01) indígena.

Em relação às idades destes praticantes budistas, temos um grande volume de jovens adultos. Um total de 67% dos respondentes se encontram entre 22 – 40 anos, outros 21,9% acima de 41 anos e apenas 11% entre 12 – 21 anos. A grande maioria mora no estado de São Paulo (38%), seguidos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Ceará como os principais estados em que os participantes budistas moram.

Os participantes também deram sua opinião sobre assuntos que acreditam ser relevantes para a comunidades LGBTQ e que deveriam ser abordados de alguma pela Rainbow Sangha relacionando com o Budismo ou discutindo alguns deles a partir de um posicionamento budista, o quadro abaixo mostra alguns dos assuntos sugeridos:

As questões a respeito da identidade de gênero foram as que mais surgiram entre os respondentes e entendemos que muitos dos outros assuntos orbitam em torno deste assunto mais macro. Muitos budistas querem entender como explorar sua própria identidade de gênero sob o ponto de vista do Budismo, e a partir disso compreender, Budismo é binário? Budismo fala sobre fluidez de gênero? Existem transgêneros no Budismo? É possível ser gênero queer no budismo?

Feminismo foi outro assunto que também surgiu, e a partir disso, perguntas como: O Budismo é patriarcal? Como se dá a ordenação de monjas? Qual a participação das mulheres no Budismo? Outro assunto que ficou evidente para nós diz respeito ao Racismo. Por que há poucos negros no Budismo? Podemos falar de política sob a ótica do Budismo? Como podemos pensar o preconceito a partir dos ensinamentos budistas? Como o Budismo pode ajudar a romper com a LGBTQfobia?

Muitos budistas LGBTQs que participaram da nossa pesquisa também queriam também conhecer referências queer dentro do Budismo. Que representações existem para quem é transgênero? Como podemos entender a diversidade na história do Budismo? Como pensar em uma linguagem mais inclusiva a partir do Dharma e outros exemplos de línguas onde o Budismo existe?

Por fim, muitos comentaram a necessidade de aplicar o Budismo ao dia a dia da população LGBTQ. Existe liberdade sexual para quem é budista? Como podemos viver nossa sexualidade a partir da ética e preceitos budistas? Como pensar nossas relações e as angústias dos relacionamentos a partir dos ensinamentos do Buda? E aspectos mais psicológicos como auto estima e sofrimento no mundo contemporâneo? Como o Budismo pode ajudar a sair do armário e construir relações mais saudáveis na família?

CONCLUSÕES:
Percebemos que precisamos avançar em termos de diversidade na Rainbow Sangha. A pesquisa mostrou que existe uma maioria homens-cis, gays, brancos e nosso compromisso é e sempre sermos plurais em todos os sentidos. Um mundo mais igualitário só existe na diversidade e se nosso lema é “vamos viver a diversidade e não a adversidade” precisamos trabalhar para trocarmos estes lugares de fala, conhecer, promover e aprender outros olhares e maneiras de pensar o mundo, outras experiências e realidades.

O Budismo para agregar e não segregar precisa incorporar esta diversidade, de gênero, de raça, de classe, de gerações e inclusive religiosa, pois sim, dupla, tripla ou múltipla pertença é possível, faz parte da realidade brasileira e não estamos aqui para julgar nenhuma expressão. Nossa proposta é acolher a todos, sem nenhuma distinção e iremos trabalhar para que isso seja uma realidade, promovendo o Dharma do Buda para a população LGBTQ.

Queremos novamente agradecer os 96 respondentes da pesquisa, todas as contribuições, sugestões e elogios que todos fizeram para o crescimento deste colorido Sangha.

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