*texto escrito pelo praticante budista Celton Pelizaro
O que é fazer parte de uma minoria? Porque se colocar ou se enquadrar em uma minoria? São questões que dificilmente eu teria me feito se não houvesse o tal “Deus acima de todos”, ou “Estado laico mas com valores judaico – cristão”.
A partir daí me questionei….. Mas e quem como eu (Budista) que tem sua fé e prática religiosa em que não existe Deus? E quem não tem fé e nenhuma prática religiosa? Estamos fora? Somos excluídos?
Ao descobrir que faço parte de uma minoria, o segundo questionamento foi automático: Mas porque somente agora fui perceber e sentir isto, já que tomei refúgio no Budismo há quase 11 anos?
Minha conclusão foi que, mesmo sendo o único Budista na família, no ambiente profissional, no Rotary Clube que pertenço, ente meus amigos, nunca fui medido pela régua de “qual religião pratico”, mas sim pela régua do meu comportamento, das minhas ações e reações, e principalmente pela conduta perante às pessoas destes vários ambientes sociais.
Sou casado há 28 anos tenho uma linda filha de 28 anos. Não sou homosexual, e só depois conviver com um Sangha (comunidade) Budista que tem foco nas questões LGBT+, que comecei a entender o horror que muitas pessoas vivem cotidianamente, simplesmente porque não “se enquadram como a maioria”.
Que diferença faz a identidade do desejo de cada um? Que diferença faz nascer Transsexual? Hoje entendo que faz una enorme diferença para quem é ou nasce, diferentes dificuldades, diferenças que machucam, ferem o íntimo e até matam.
A grande diferença que nós “heteros” podemos fazer é, Acolher e Apoiar, e se possível até compartilhar deste incômodo causado a quem sofre o preconceito.
Imagine você ter que sair da casa dos seus Pais; não ser contratado ou ser demitido do emprego, perder amigos ; não ser aceito no Clube ou em outro ambiente coletivo, sofrer diariamente olhares de reprovação, simplesmente por ser homem e se vestir com roupas masculinas e estar de mãos dadas com sua namorada, ou sendo mulher nesta mesma situação. Estranho não é?
Pois é, com quem sofre preconceito, esta exclusão é rotineira. Será que conseguimos nos colocar no lugar destas pessoas? Pare para pensar quantos comportamentos sociais já mudaram, mulheres não trabalhavam, mulheres não lideravam e hoje comandam grandes e pequenos negócios. Homens nem tiravam o sapato e hoje lavam, passam e cozinham para suas famílias. Jovens não tinham direito a opinar e hoje expõe suas idéias em diversos canais de comunicação. Idosos eram aposentados com 50 anos, hoje empreendem ou voltam ao mercado de trabalho aos 60 anos, ou mais, e convivem com companheiros jovens no trabalho.
Será que não chegamos na hora de mudar outros comportamentos sociais? Será que não é hora de esquecer o comportamento íntimo das pessoas? Afinal ninguém gosta de expor sua intimidade. Será que não é hora de valorizar mais o SER e não o que se aparenta TER?
Respeito, Dignidade, Honestidade, Caráter e outros valores não são ditados pela orientação sexual ou por nossas características físicas, e sim porque as temos e ponto.
Respondendo à pergunta inicial, vejo que hoje devo me posicionar, devo questionar, devo contrariar o preconceito; qualquer que seja ele simplesmente porque quero viver em uma sociedade mais Humana e com Amor ao próximo.
Faço a sugestão que possamos juntos refletir sobre tudo isto. Eu, você, todos nós temos tudo a ver com a causa LGBT+, e qualquer outra causa que nos permita exercer a COMPAIXÃO com o próximo.
Fico muito feliz que o site da Rainbow Sangha tenha saído e muito surpreso com o artigo escrito por Kodo Nishimura, além do belo e sensível depoimento de Celton Pellizaro. Pertenço à Rainvow Sangha. Sou praticante da Nichiren Shu Hokeikyoji do Brasil e rive o aval de meus mestres para participar ativamente deste Sangha. Contem comigo, meninos e meninas! Os “veículos” são diferentes, porém, indubitavelmente somos todos budistas. Me alegro em fazer parte disto tudo! Obrigado pelo esforço de todos! Contem com a Nichiren Shu Hokeikyoji do Brasil para qualquer ação ligada a causa LGBT+