O budismo abraça toda forma de amor.

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Todos os amores são possíveis! Mas para essa possibilidade ocorrer, precisamos entender um pouco como as religiões pensam a vida. São por meio delas que delineamos sobre quem ou o que é o ser humano. Gostaria de falar um pouco sobre os Cinco Agregados, é por meio deste ensinamento, e também de outros como os Doze Elos da Originação, Lei da Impermanência, Interdependência, Causa e Efeito que entendemos o ser e vida no olhar budista

A pergunta “o que sou eu”, e não “quem sou eu”, questiona a real ideia de um “eu” independente, um ego, o que para o budismo é uma ilusão. A existência não é vista como uma criação, mas por uma complexa manifestação da Vida, como tudo no universo, interconectada e interdependente à inúmeras causas e condições, ao longo de tempos imemoriais. Eu dependo de infinitas condições propícias para ser o que sou ou ter o que tenho. Sugiro o documentário One Strange Rock da National Geographic para ilustrar um pouco.

Vamos conhecer um pouquinho os tais Agregados. É por meio deles que experimentamos o viver, e entendemos como causador do sofrimento, a principal preocupação do caminho budismo.:

Forma (Rupa) – nosso corpo, incluindo os cinco sentidos e mente.

Sensações (Vedana) – podem ser agradáveis, neutras ou desagradáveis.

Percepções (Samjna) – que nos faz nomear, perceber, definir.

Formações Mentais (Samskara) – a formação de algo na mente, o medo, a flor, a nuvem.

Consciência (Vijnana) – sementes armazenadas das formações mentais. 

O que proporciona o desejo não é um sofrimento em si, mas a forma como nos relacionamos a ele: o apego, a dependência, a insatisfação nessa espiral interminável onde o desejo surge, satisfaz e torna a surgir. São como ervas daninhas – cortadas, crescem novamente. Buda ensina ainda que todos os fenômenos sentidos e percebidos surgem e se extinguem na mente, não há nada fora dela. E exercitar o controle sobre esta mente por meio de uma Atenção Plena, o sétimo dos Oito Nobres Caminhos, é um meio eficaz para diminuir, quando não, eliminar o sofrimento.

Com isso, três perguntas podem ser feitas – a conduta sexual gera sofrimento, gera raiva e gera apego para si, para o outro e para as partes envolvidas? Se a resposta for sim, então há algo incorreto. Tanto o desejo, e vamos incluir o amor, podem resultar em desequilíbrio, e desequilíbrio leva ao sofrimento. O primeiro discurso do Buda Shakyamuni após atingir a iluminação foi a vida desequilibrada leva ao sofrimentos. A palavra Dukkha usada no seu discurso significava o eixo de rodas da carroça de bois, se mal ajustadas causam danos à sua condução.

No pensamento budista não existe o conceito de pecado ou julgamento por um ser divino. O único julgador são os karmas produzidos por você mesmo. Karma significa ação. Comer é uma ação karmica, andar, trabalhar, se relacionar, falar, pensar, agir, todos surtem efeitos positivos, negativos ou neutros. Então, o desejo lgbt+ manifestado não é submetido à punição por não haver estes personagens de criador e criatura, nem o conceito de fertilidade. Creio que essa seja uma das origens de todo entrave, a definição de papéis sociais. Não há um dogma sobre como o humano deva ser. O Buda deixou ensinamentos para que nos conheçamos, como funcionamos, resultando compaixão e tolerância a si e ao próximo.

No budismo, não determina moralidade sexual, ele não se preocupa com o a moral do desejo, mas o sofrimento que ele causa. Logo, basta você ser o que você é. O desejo homoafetivo assim é e assim está bem. O amor entre duas pessoas simplesmente se manifesta, e isto é o importante.

O grande problema do amor lgbt+ são os conceitos de pecado, culpa, imoralidade, incutidos ao longo dos tempos determinando como a vida deve ser. Isso gera ódio, raiva, sofrimento, repulsa, preconceito, discriminação, tortura e morte. Porém, há muitas correntes que fazem uma releitura dos textos e acolhem a população lgbt+ em sua confissão: anglicanos, metodistas, espíritas, matrizes africanas entre outros trazem interpretações contemporizadas e adaptadas à realidade.

No budismo, o Buda Amida é a Iluminação Personificada, que abraça a todos incondicionalmente recebendo-os em sua Terra Pura do jeito que são, rumo ao Nirvana, o estado livre de sofrimentos. Logo, tanto faz você ser hétero ou homossexual, estamos todos na mesma roda do Samsara, nos ciclos do nascer e morrer, no mundo dos sofrimentos.

Rev. Jean Tetsuji

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