Monja budista internacionalmente aclamada, estudiosa e defensora da ordenação monástica feminina, Venerável Dra. Bhikkhuni Kusuma Devendra morreu no final do sábado no Sri Lanka. Ela tinha 92 anos.
Uma mensagem de sua família foi compartilhada no fim de semana nas mídias sociais:
“É com pesar que queremos anunciar que a Ven. Bhikkhuni Kusuma (92 anos) faleceu pacificamente após uma breve doença. Os ritos finais serão realizados em um funeral privado de acordo com um pedido da família. Que ela alcance a suprema felicidade de Nibbana!“
A Ven. Bhikkhuni Kusuma se tornou a primeira bhikkhuni do Sri Lanka em dez séculos e, inspirada por sua mentora irmã Ayya Khema (1923-97), é atribuída por ser pioneira no renascimento da ordem Theravada bhikkhuni no Sri Lanka. Ela passou a oferecer palestras de Dharma em todo o mundo e a fundar e liderar o Centro Internacional de Meditação Ayya Khema em Horana, no oeste do Sri Lanka.
“Estamos organizando um memorial póstumo de sétimo dia para ser transmitido ao vivo e também planejamos criar uma biblioteca e um centro de visitantes em sua memória,” disse Ven. Dr. Mudi Devendra, filho mais novo da Ven. Kusuma, à Buddhistdoor Global.
Em uma entrevista de 2018 com a Buddhistdoor Global,* Ven. Bhikkhuni Kusuma relacionado:
“Trabalhei para o estabelecimento da ordem bhikkhuni por cerca de vinte anos. Houve uma ordem bhikkhuni florescente no Sri Lanka por quase dez séculos e, em seguida, a linhagem desapareceu. Eu não tinha ideia de me ordenar, mas estava ansiosa que fosse restabelecida.
A ordem dos bhikkhu [monástica masculina] estava bem estabelecida e as pessoas estavam acostumadas a olhar para os bhikkhus. Durante séculos, o Sri Lanka teve uma tradição muito poderosa de ordenação de bhikkhu. Mas isso também morreu devido a invasões, muitas guerras, estando sob os domínios britânicos, holandeses, portugueses; o Sri Lanka também perdeu a ordem bhikkhu. Mas há cerca de 200 anos, foi ressuscitada. Eles embarcaram em navios holandeses, foram para a Birmânia e Tailândia e trouxeram a linhagem bhikkhu de volta. Mas não trouxeram de volta a ordem bhikkhuni! Então era isso que estávamos tentando fazer. Como a ordem bhikkhu estava bem estabelecida, reconhecida pelo governo, com educação e apoio de toda a comunidade budista, ela tem funcionado com sucesso até hoje. No entanto, a ordem bhikkhuni foi inédita. Foi bastante controverso.
Eu não queria confrontar a hierarquia porque isso significaria que eu estaria em problemas pessoalmente. Durante vinte anos, realizei muitas ordenações, mas em particular, sem qualquer publicidade. Houve um entendimento silencioso. [Antes da minha ordenação] Eu publiquei livros com meu nome escrito como Bhikkhuni Kusuma, mas ninguém me confrontou. Não havia uma grande oposição; éramos minoria, e os monges não sentiam que éramos um desafio. Eu pensei: é tradição, e leva tempo. Com o passar do tempo, quando o número [de mulheres interessadas] foi crescendo, seria o momento certo para pedirmos abertamente reconhecimento. Eu estava a espera.
Minha ordenação foi uma surpresa até para mim. Dr. Vipulasara Thero [na época, o secretário do Conselho Budista Mundial, o presidente da Sociedade Maha Bodhi da Índia e um defensor da ordenação bhikkhuni] insistiu que eu me juntasse à ordem e assumisse a liderança porque ele achava que as outras nove monjas não eram capazes de enfrentar uma ordenação internacional tão importante por si mesmas.
Agora temos cerca de 3.000 bhikkhunis e foi após minha primeira ordenação que a palavra bhikkhuni foi mais uma vez conhecida e ouvida no Sri Lanka!”
Durante grande parte de seu início de vida, Kusuma Devendra foi acadêmica, estudando biologia molecular nos Estados Unidos e ensinando ciências e inglês na universidade. Ela entrou para o budismo depois de perceber que a ciência não podia responder a todas as suas perguntas sobre a natureza da existência. Posteriormente, ela obteve dois doutorados – um sobre bhikkhunis no Sri Lanka e outro sobre o Vinaya, a divisão do cânone budista sobre as regras e procedimentos que regem o Sangha monástica budista.
Ven. Bhikkhuni Kusuma viajou para a Coréia do Sul e Taiwan para estudar linhagens vivas do monasticismo feminino e, em 1996, fez formalmente seus próprios votos de ordenação em Sarnath, na Índia, diante de um conclave unido dos principais líderes bhikkhu e bhikkhuni das cinco principais ordens monásticas da Coréia, lideradas pelo falecido patriarca da Ordem Jogye, Ven. Seo Am Sunim.
Autora de vários livros, Ven. Bhikkhuni Kusuma representou o Sri Lanka em muitas conferências budistas internacionais e foi considerada um dos principais pontos de luz e de modelo pelas bhikkhunis Theravada em todo o mundo.
“Eu gostaria que os bhikkhunis – não apenas no Sri Lanka, mas em todo o mundo – fossem ensinadas , treinadas, pudessem falar sobre o Dharma e doar esse conhecimento ao mundo. Então, será um mundo completamente diferente.” – Ven. Dr. Bhikkhuni Kusuma*
(tradução livre nossa)
